Eles coletavam folhas de jaborandi, usadas para remédios e cosméticos.
Três deles apresentavam inanição e tiveram de ser internados.
Um grupo de fiscalização do Ministério do Trabalho resgatou 46 trabalhadores, entre eles duas mulheres, em situação considerada degradante em São Félix do Xingu (PA).
Eles trabalhavam na coleta de folhas de jaborandi, usadas na indústria farmacêutica e cosmética. Dessas folhas se extrai a pilocarpina, substância que serve para a produção de colírio para tratamento de glaucoma.
O grupo de trabalhadores dormia em barracos de lona e não tinha acesso a água potável, nem sanitários. Do valor que recebiam pelas folhas coletadas, era descontado um alto preço pela comida e outros materiais necessários para a sobrevivência, fornecidos pelo patrão. “Na hora do acerto do salário, sobrava uma ninharia”, conta Klinger Moreira, coordenador da fiscalização. “Por três razões podemos dizer que se tratava de uma situação de trabalho análogo à escravidão: endividamento, jornada exaustiva e cerceamento do direito de ir e vir”, explica.
Segundo Moreira, o ministério foi até o remoto local do acampamento dos trabalhadores porque um deles conseguiu escapar, andando cerca de 100 quilômetros pela selva até chegar a um ponto onde conseguiu pegar uma carona até a parte urbana de São Félix do Xingu. A libertação ocorreu na semana passada.
Além de residirem em condições precárias desde maio, os resgatados expunham-se a riscos durante o trabalho. Do acampamento até o local de coleta, eles precisavam caminhar entre 6 e 8 quilômetros pela floresta. No fim do dia, voltavam ao local das barracas carregando sacos de 60 quilos de folhas. “Neste trajeto poderiam ser atacados por cobras, escorpiões, onças”, avalia Moreira.
“Trouxemos os trabalhadores para a cidade e eles estão em hotéis provisoriamente pagos pelo ministério, mas três deles tiveram de ser internados em hospital porque apresentavam sinais de inanição”, conta o coordenador. “Alguns deles contaram que faziam uso de maconha para suportar o trabalho e que ela também era descontada do trabalho, mas ainda estamos averiguando quem fornecia a droga”, diz.
Segundo Moreira, as informações relacionadas à autuação foram repassadas à Procuradoria do Trabalho, que conseguiu o arresto de contas da empresa que supostamente financiava a exploração dos trabalhadores. O coordenador explica que foram encontrados com a pessoa que contratou os trabalhadores extratos que indicam que uma empresa do setor químico sediada em São Paulo financiava a operação.
Fonte: Dennis Barbosa
Do Globo Amazônia, em São Paulo
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