Por Bira do Pindaré
Estive no Fórum Social Mundial em Belém do Pará. Logo na marcha de abertura, vi o frenesi de homens e mulheres nas ruas, nas janelas, nas praças, nas calçadas, carregando faixas, cartazes, gritando palavras de ordem, cantando, dançando, pulando, discursando, poetizando... Era gente para todo lado. Naquele instante, também vi desabar uma chuva torrencial, típica da Amazônia, como prenúncio da abundância que seria aquele grande evento.
Vi o anúncio coletivo da derrocada do neoliberalismo, todo ideário produzido em Davos sendo ofuscado e os movimentos sociais retornando, com força, à cena política mundial.
Vi a esperança nos olhos da militância e uma explosão de diversidade como marca das lutas sociais contemporâneas.
Vi expressivas lideranças e renomados pensadores prolatando teses e reafirmando, com fluidez vibrante, que o socialismo é o caminho.
Vi Frei Betto dizendo que o Fórum é um grande posto de gasolina, onde demos uma paradinha para nos abastecer para as lutas que virão pelas estradas que nos conduzirão a um mundo novo.
Vi o teólogo Leonardo Boff lembrando que somos filhos da terra, “que cuidou de nós até aqui, agora temos que cuidar dela”. Defendendo a necessidade de “ecologizar a política” com o eco-socialismo face à crise global.
Vi a senadora Marina Silva afirmando que a crise ambiental é mais séria que a econômica, mas que as duas terão que ser resolvidas agora, por essa geração, e ao mesmo tempo. Lançou o desafio de buscarmos um novo processo civilizatório. Em resposta o povo clamou: Brasil, urgente, Marina presidente.
Vi o Frei Xavier Plassat, pela Comissão Pastoral da Terra, ao lado de Carmen Bascaran, pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos, denunciando e reafirmando a luta contra o trabalho escravo no Brasil.
Vi o líder do Movimento dos Sem Terra, João Pedro Stédile, lembrando que a luta por reforma agrária é mais atual do que nunca e conclamando o povo do Maranhão a lutar pela democracia e contra a cassação do governador Jackson Lago.
Vi o sociólogo português Boaventura de Souza Santos defendendo a reinvenção do Estado, inspirado nas comunidades indígenas, de modo integrado à natureza.
Vi a cubana, Eleida Guevara, filha do líder Che Guevara, cantando, clamando por união e por solidariedade entre os povos e comemorando os 50 anos da revolução cubana.
E finalmente, vi os presidentes Lula da Silva (Brasil), Hugo Chavez (Venezuela), Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai) e Evo Morales (Bolívia), pela primeira vez juntos no Fórum Social Mundial, apelando pela integração do continente latinoamericano.
Foi bonito ver aquele mundo de gente cultuando, de todas as maneiras, a vida como bem maior da humanidade e de todos os demais seres que habitam o planeta. É bom saber que não estamos sós e que no mundo inteiro há pessoas comprometidas com a construção de uma nova sociedade, embalados pela convicção de que um outro mundo é possível e necessário.
*Bira do Pindaré é advogado, bancário e mestre em políticas públicas pela Universidade Federal do Maranhão.